Belemitas
Deus faz o que Ele é

Nós o adoramos por quem Ele é, não por aquilo que Ele faz.
Quantas vezes já ouvimos essa expressão? Ela é constantemente utilizada como forma de “combater” uma crescente ideologia neopentecostal de que enquanto você adora, Deus vai dando vitória.
A intenção, obviamente, é das melhores, qual seja, instruir-nos no sentido de que não podemos transformar nossa adoração em objeto de barganha. Em outras palavras, o motivo pelo qual elevamos nossos pensamentos a Deus e nos engajamos no louvor não pode ser a benção que ansiamos receber dele (aquilo que Ele faz), e sim a compreensão de que Ele é Deus (quem Ele é).
Em um plano teórico, diferenciar esses dois motivos não parece ser tão difícil assim.
Quem Deus é pode ser evidenciado por meio da compreensão de seus atributos. São eles naturais, ou seja, aqueles que dizem respeito à sua essência, ou morais, que expressam a sua vontade. Como exemplo dos primeiros, têm-se a Onipresença, Onipotência, Onisciência, Eternidade, Imutabilidade, Infinitude. Já os atributos morais podem ser representados por seu Amor, Justiça, Bondade, Santidade, Verdade. A adoração por quem Deus é seria aquela decorrente da consciência de tais atributos, que são absolutos, infalíveis e superiores a qualquer qualidade humana.
O que Deus faz, por sua vez, compreende todas as obras e realizações dEle por nós e em nós. Trata-se da manifestação visível (ou ao menos compreensível[1]) de Deus no mundo real. Portanto, a adoração pelo que Ele faz seria aquela decorrente da constatação dos feitos divinos em nossas vidas (feitos consumados – aquilo que Ele já fez – ou feitos potenciais – aquilo que Ele ainda pode fazer).
Acontece que, se olharmos para a nossa adoração prática, percebemos que somos incapazes de distinguir qual porção dela decorre de quem Deus é e qual porção decorre do que Deus faz. Isso ocorre porque tudo aquilo que Ele faz nos revela quem Ele é e, por outro lado, quem Ele é se torna evidente para nós por meio do que Ele faz.
O primeiro versículo do Salmo 19 explicita perfeitamente essa relação: o céu anuncia a glória de Deus e nos mostra aquilo que as suas mãos fizeram (NTLH). Perceba-se que o Rei Davi contempla o céu (algo que Deus fez) para exaltar sua glória (parte de quem Deus é), a qual é mostrada ao ser humano por meio daquilo que suas mãos fizeram.
Em nossas vidas o exemplo é igualmente verdadeiro. Desde crianças, sabemos que Deus é bom, é amor, é justo, é onisciente... Mas com o passar do tempo temos experiências que revelam tais atributos por meio dos feitos divinos em nós. E isso é próprio de quem Deus é.
Ao longo de toda a Bíblia, vemos que Ele está engajado em desenvolver um relacionamento pessoal e íntimo conosco, por meio do qual Ele nos revela seus segredos (o que ninguém nunca viu nem ouviu, e o que jamais alguém pensou que podia acontecer, foi isso o que Deus preparou para aqueles que o amam – 1 Coríntios 2:9, NTLH). Ele não se isola em sua grandeza e não se contenta com sua própria glória. Pelo contrário, Ele quer se revelar a nós e nos mostrar quem é, realizando em nós grandes obras.
Se assim não fosse, Deus seria incompreensível para o ser humano. Adoraríamos ideias de Deus, conceitos sobre Deus ou teorias acerca de Deus, mas estaríamos completamente cegos ao Deus Pai, ao Deus Amigo, ao Deus Senhor.
O próprio Jesus ao explicar a Nicodemos acerca do Amor de Deus o fez a partir das evidências do que Deus fez por causa desse amor: porque Deus amou o mundo tanto, que deu o seu único Filho, para que todo aquele que nele crer não morra, mas tenha a vida eterna (João 3:16, NTLH). Ou seja, um atributo que passa a ser compreendido por meio da ação divina.
É assim em tudo. Deus é bom e nós o adoramos por isso. E quando o adoramos por sua bondade, lembramo-nos de que, por ser bom, Ele já curou, já nos deu oportunidades incríveis e já nos livrou de muitos perigos. Deus é onipresente e nós também o adoramos por isso. E quando assim fazemos, temos a plena consciência de que Ele está conosco, mas também está cuidando de nossos familiares e amigos. Deus é grande e nós o adoramos por sua grandeza. E, quando olhamos para os céus e vemos a Lua, as estrelas e a sua criação, compreendemos o quanto esse atributo é verdadeiro.
Resumindo, tudo aquilo que Deus faz nos revela uma porção de quem Deus é e, por meio disso, nos atrai para mais perto da sua glória. Um adorador verdadeiro não é um teórico sobre Deus e sim um filho de Deus – e pelo filho, aquele que é Pai faz coisas boas (Mateus 7:9-11).
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[1] No sentido daquilo que se pode compreender com os sentidos humanos.
